China é um investidor cada vez mais importante na América do Sul

O novo governo dos Estados Unidos, liderado pelo polêmico presidente Donald Trump, não tem escondido a sua preocupação com o avanço dos investimentos da China na América do Sul, em áreas como energia, infraestrutura e mineração – nesta, especialmente, em segmentos estratégicos como lítio e cobre.

A América do Sul, ou mesmo toda a América Latina e a região caribenha, sempre foram – e parece que ainda são – consideradas uma espécie de “quintal” pelos Estados Unidos, uma área cativa de influência onde potências gananciosas e intrometidas não teriam o direito de entrar como quisessem.

Deste ponto de vista – de inegável viés colonialista -, os estadunidenses não deixam de ter razão. A China tem se destacado como o maior investidor mundial em infraestrutura nos últimos anos, e a América Latina vem ocupando espaço cada vez maior nesta expansão.

Desde o lançamento da Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) em 2013, Pequim alocou mais de US$ 900 bilhões em projetos que abrangem mais de 150 países, segundo o Banco Mundial. Esses investimentos incluem portos estratégicos, como o de Gwadar, no Paquistão, e o do Pireu, na Grécia, além de redes ferroviárias, rodovias e parques industriais na África e na Ásia.

A América do Sul ainda está bem atrás no portfólio chinês de investimentos, comparada com a Ásia e a África, que têm absorvido volumes significativos de capital chinês em infraestrutura e projetos fabris. Isto não quer dizer que os investimentos chineses no subcontinente não estejam avançando, e com crescente rapidez.

Dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) mostram que, em 2023, a China investiu US$ 13 bilhões na região, principalmente em projetos como ferrovias no Chile, parques solares na Argentina e o Corredor Bioceânico, que busca conectar Brasil e Peru, ou seja, o Oceano Atlântico ao Pacífico.

O objetivo econômico da China é claro: reconfigurar o mapa do comércio internacional e aumentar a conectividade entre mercados, criando o que o seu líder Xi Jinping chamou de “comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade”.

No entanto, esses investimentos não são puramente econômicos. Obviamente, pela sua própria natureza, eles também carregam implicações geopolíticas. Ao financiar e operar infraestruturas críticas, como portos, ferrovias e instalações de energia, a China consolida laços econômicos que muitas vezes se traduzem em maior influência política nos países clientes.

De fato, segundo o think tank americano Council on Foreign Relations, empresas estatais chinesas possuem participações em cerca de 100 portos em 64 países, o que põe em tela o alcance de sua estratégia global. Na América Latina, isso coloca Pequim em uma posição vantajosa, permitindo-lhe moldar as regras do comércio regional e se contrapor à influência histórica dos Estados Unidos.

PORTFÓLIO VASTO

A variedade dos investimentos chineses na América do Sul é de cortar o fôlego. Na área de energia, a China tem investido em projetos de energia renovável, como parques solares na Argentina, e em energias fósseis, com destaque para a parceria com o Brasil no setor de petróleo e gás, que poderá se expandir com as novas reservas descobertas no estado do Amapá, na Amazônia brasileira.

Na infraestrutura, projetos como o Corredor Bioceânico, que busca conectar o Brasil e o Peru, e a construção de ferrovias, como no Chile, demonstram o foco chinês na infraestrutura. O porto de Chancay, no Peru, é um exemplo emblemático de um grande investimento em infraestrutura portuária.

Na mineração, a China tem buscado acesso a recursos minerais estratégicos, como o lítio, no Triângulo do Lítio (Argentina, Chile e Bolívia), e o cobre no Peru, incentivando o investimento em projetos de mineração nesses países.

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Fonte:(https://ipesi.com.br)

Além da energia, infraestrutura e mineração, a China tem investido em tecnologia da informação (TI), indústria automotiva e em projetos de “novas infraestruturas”. Parece haver um objetivo paralelo do país asiático em também diversificar seus investimentos na região.

Disto dá conta o foco chinês em também montar parcerias com instituições como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), para a construção de infraestruturas sustentáveis e projetos que promovam o desenvolvimento econômico e social das regiões.

Naturalmente, todos estes investimentos chineses já vêm tendo impacto significativo na economia e na política das nações da América do Sul. Países como o Brasil, por exemplo, já há anos tem visto a China como, talvez, o seu principal parceiro comercial e investidor.

Diga-se que o avanço chinês na América do Sul foi bastante facilitado pelo relativo esquecimento da região pelos EUA nas últimas décadas. A resposta dos EUA veio tarde e tem se concentrado em iniciativas algo platônicas, como a Parceria das Américas para a Prosperidade Econômica (Apep), anunciada em 2023, que busca fortalecer os laços econômicos com a região.

Ou seja, a abordagem americana ainda carece de investimentos significativos, enquanto a da BRI se traduz em projetos concretos, como portos e ferrovias. Em termos de números, enquanto a China destinou US$ 65 bilhões à América Latina em empréstimos para infraestrutura entre 2005 e 2021, os EUA investiram US$ 3 bilhões no mesmo período.

LONGO PRAZO

A estratégia chinesa difere da americana também no que diz respeito à “paciência” do retorno dos investimentos. Neste sentido, a inauguração do porto de Chancay, no Peru, simboliza um ponto de inflexão no papel da América do Sul nas dinâmicas econômicas e políticas internacionais.

Com um investimento de US$ 3,5 bilhões liderado pela estatal chinesa Cosco Shipping, o projeto não apenas reforça a capacidade logística do Peru, mas também evidencia a estratégia chinesa de expandir sua influência global por meio de infraestrutura crítica.

A iniciativa faz parte de um esforço maior da China para integrar no longo prazo economias emergentes às rotas comerciais que conectam o Oriente ao Ocidente, consolidando sua posição como um dos principais arquitetos da ordem econômica contemporânea.

Essa infraestrutura estratégica deve reduzir em até 10 dias o tempo de transporte marítimo entre os dois continentes e economizar até 20% nos custos logísticos. Além disso, o porto tem capacidade para movimentar 24 mil contêineres, consolidando o Peru como um importante hub logístico para o comércio internacional.

Do ponto de vista do governo e das sociedades da América do Sul, com sua abundância de recursos naturais e mercados emergentes, que deveriam estar no centro das transformações econômicas internacionais, a presença chinesa tem sido para lá de bem vinda.

Pois, mesmo com o avanço da China como o principal investidor em infraestrutura no subcontinente, a região como um todo ainda enfrenta enormes desafios estruturais que a impedem de alcançar seu potencial pleno.

Porém, se o lançamento da Iniciativa do Cinturão e Rota em 2013 trouxe consigo uma oportunidade para reduzir o déficit de infraestrutura e promover a integração regional, apenas alguns países da região, como Chile, Uruguai e Peru, e em menor escala a Argentina e o Brasil, têm conseguido atrair e se beneficiar significativamente dos investimentos chineses.

Neste contexto, a hesitação do Brasil em aderir formalmente à BRI não é apenas uma decisão econômica, mas também uma escolha estratégica com implicações regionais e internacionais.

Enquanto a China avança na consolidação de sua presença na América do Sul, o Brasil, maior economia da região, ainda debate os méritos e riscos de uma adesão, embora reconheça na China um dos seus grandes parceiros comerciais neste momento.

A falta de uma posição clara do Brasil levanta questões sobre a capacidade do país de liderar uma integração macrorregional que maximize os benefícios dos investimentos chineses, ao mesmo tempo em que preserve sua autonomia política e econômica.

A pressão dos EUA sobre países como o Brasil para evitarem uma adesão à BRI demonstra o caráter geopolítico dessa disputa, mas não resolve os problemas reais de infraestrutura e integração regional enfrentados pela América do Sul. Para saber mais sobre os investimentos acesse o site.

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Marcus Figueiredo

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