POR QUÊ A INDÚSTRIA VEM PERDENDO ESPAÇO NO PIB?

 Para José Velloso, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a redução da participação da industrial no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é algo que vem de longe e tem razões estruturais e bastante complexas.

Para ele, essa queda, que reflete o visível processo de desindustrialização do país, só poderá ser revertida com a melhoria do ambiente de negócios, com políticas de financiamentos ao desenvolvimento industrial, transição energética, investimentos em infraestrutura e maior inserção da indústria de transformação no mercado internacional.

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Fonte:(https://www.usinagem-brasil.com.br)

UB – Conforme dados do IBGE, a participação do setor no PIB encolheu 33% desde 2010, com o setor perdendo cerca de 800 mil postos de trabalho. Por que, em sua opinião, chegamos a este quadro?

Velloso – O processo de redução da participação industrial no PIB não é algo que começou em 2010, é algo que ocorre desde a década de 1980, com pequenos ciclos de alta, mas de forma geral com tendência de queda durante o período. Não existe uma resposta fácil para este fenômeno. Há, em verdade, debates intensos sobre as razões deste processo e em como superá-las.

Contudo, parte da resposta está relacionada aos custos de se produzir no Brasil, relacionados à complexa estrutura tributária, que, além de ser alta, incide com efeito cascata e é ainda excessivamente burocrática, ao custo do capital extremante elevado, à infraestrutura inadequada, à insegurança jurídica e uma série de outros problemas que são conhecidos como Custo Brasil.

Um dos caminhos para reindustrializar o país passa necessariamente, portanto, pela adoção de uma agenda de competitividade no país, com forte inserção da indústria, setor que possui importante papel na geração de emprego, renda e no encadeamento intersetorial necessário para o crescimento da produtividade.

UB – Como esta queda afetou a indústria de bens de capital, em termos de receita e volume de produção?

Velloso – A indústria de bens de capital foi igualmente impactada pelo processo de desindustrialização nacional. Os investimentos nacionais encolheram a níveis historicamente baixos, e mesmo com a recuperação observada na saída da crise mais intensa da pandemia da covid-19, suas taxas continuam 30% abaixo do pico de desempenho do setor.

UB – Mas fábricas do setor tiveram eventualmente de ser fechadas? Quantas existiam em 2010, quantas existem agora? A predominância é das empresas de maior porte, ou das pequenas e micros?

Velloso – Não possuímos um histórico consolidado de fechamentos de fábricas no período, mas observamos que alguns setores da indústria de máquinas sofreram forte desestruturação.

De forma geral, predominam entre as indústrias do setor as empresas de pequeno e médio porte, cerca de 70% do universo de fabricantes.

Velloso, da Abimaq: “O Brasil precisa de uma agenda de competitividade”

UB – Em quais ‘setores clientes’ do Universo Abimaq houve maiores perdas de demanda?

Velloso – A indústria de máquinas e equipamentos atua em todas as atividades econômicas, na industrial, na extrativa, na agrícola e na construção civil.

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É necessário tomar medidas para recuperar os mais variados ramos do setor.

Observamos perdas mais intensas nas atividades da indústria de bens de consumo, notadamente aqueles que tiveram a maior parte dos seus bens substituídos por importados, como vestuários, calçados, produtos de plásticos, entre outros, mas também em setores ligados à indústria de base, a grandes projetos de infraestrutura.

Mas podemos dizer que houve queda generalizada em toda a indústria de transformação, com praticamente todos os ramos de atividade industrial vendo sua participação na economia reduzir.

UB – De outro lado, houve setores nos quais a demanda cresceu?

Velloso – Os setores ligados à extração mineral e à agroindústria produtores de commodities conseguiram se sustentar no período e por isso ganharam participação relativa. Também houve melhoria relativa nas atividades ligadas à construção civil.

UB – A Abimaq defende algum programa público-privado de recuperação da demanda de máquinas industriais? Na prática, como poderia inserir-se nesse eventual programa de reindustrialização, inclusive no que diz respeito às renovações tecnológicas? 

Velloso – A Abimaq atua frequentemente em ações de promoção da competitividade industrial e possui diversas propostas compartilhadas com a equipe de governo. Elas vão além da defesa do setor de atuação da Abimaq, procuramos sempre focar no desenvolvimento do país.

Montamos adicionalmente a cada período de eleições gerais uma agenda que compartilhamos com os candidatos à Presidência da República. A deste ano recebeu o título de “Reconstruindo a indústria – Uma proposta da indústria brasileira de máquinas e equipamentos”. Que, em linhas gerais, contempla temas direcionados à melhoria do ambiente de negócios, relacionados a políticas de financiamentos e desenvolvimento industrial, de transição energética, de infraestrutura e de maior inserção da indústria de transformação no mercado internacional.

São temas complexos, mas, se bem encaminhados, podem trazer excelentes resultados para o país.

UB – Como a entidade vê a forte tendência dos últimos governos de abrir maiores espaços para a importação de bens industrializados? Essa medida não deveria estar atrelada a alguma política industrial de cunho mais desenvolvimentista?

Velloso – É importante frisar que a Abimaq tem um posicionamento favorável à abertura comercial por meio de acordos, por entender que a maior integração produtiva e comercial com outros países é um fator benéfico a toda a nação. Contudo, a isonomia competitiva das empresas locais deve prevalecer, o que passa por uma profunda agenda de competitividade e de reformas estruturantes do país. Para ler a entrevista completa acesse o site.

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Marcus Figueiredo

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