Descarbonização da indústria brasileira exigirá investimentos de R$ 40 bilhões até 2050, calcula a CNI

A transição do setor industrial brasileiro para uma economia de baixo carbono apresenta desafios. O elevado custo de capital no país, combinado com o chamado “Custo Brasil”, torna os investimentos em novas tecnologias e processos de produção mais limpos especialmente elevados. Estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que, para descarbonizar a indústria brasileira, serão necessários cerca de R$ 40 bilhões até 2050.

O dado consta do levantamento “Oportunidades e riscos da descarbonização da indústria brasileira – roteiro para uma estratégia nacional”. O documento foi divulgado no dia 4 de dezembro , na Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas, a COP28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

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A conferência tem como objetivo encontrar medidas pra combater o aquecimento global.

O custo de cerca de R$40 bilhões foi obtido a partir da revisão de estudos feitos nos últimos anos no Brasil e a partir de consultas a especialistas de cada segmento industrial. A CNI, no entanto, ressalta que alguns setores não consideraram no cálculo os valores de investimentos indiretos para aumentar a oferta de energia renovável e alternativas, como portos, estradas e telecomunicações. Assim, o valor de R$40 bilhões poderá ser ainda maior.

“Com as condições adequadas, a indústria brasileira pode se tornar um ator significativo na economia global de baixo carbono. Para tanto, são necessárias condições econômicas e políticas claras e estáveis para que possamos atrair investimentos e impulsionar inovação em tecnologias”, afirma o presidente da CNI, Ricardo Alban.

MERCADO DE CARBONO

O governo federal anunciou, em setembro de 2023, a revisão da meta climática brasileira. O país se comprometeu a reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 48% até 2025 e em 53% até 2030, retomando a ambição apresentada em 2015, no Acordo de Paris.

Segundo o levantamento da CNI, a maior parte dos setores estudados tem potencial de mitigação de emissões de GEE nos médio e longo prazos, com destaque para cimento, siderurgia, alumínio e florestas plantadas. Por exemplo, os setores de cimento e siderúrgico, maiores consumidores de energia nos processos produtivos, podem reduzir 499 milhões de toneladas de CO² até 2050.

A CNI simulou três cenários para saber se o Brasil consegue atingir as metas acordadas e entender se a precificação do carbono poderá ter algum impacto nos nesses compromissos:

Cenário referência: em que as metas assumidas, hoje, pelo país são mantidas, sem a implementação de uma política de precificação de carbono. Essa situação considera o mecanismo de ajuste de fronteira de carbono europeu (CBAM, em inglês) – imposto criado pela União Europeia para precificar as emissões dos produtos importados pelos países membros.

Cenário 1: em que o Brasil adota uma política de precificação de carbono por meio de uma taxa de carbono. As receitas obtidas pelo pagamento da taxa pelos agentes econômicos vão para o orçamento da União. Essa situação também inclui o CBAM europeu.

Cenário 2: em que há o mercado de carbono e é feita a reciclagem de receitas, que é quando se usa uma receita para pagar uma despesa. O CBAM europeu é levado em consideração.

– Resultados para cada cenário:

Cenário referência: as emissões chegam a 1,2Gt CO², atendendo à meta da NDC brasileira. Sem aumento de ambição, entre 2030 e 2050, as emissões permanecem no mesmo patamar e o país não alcança a neutralidade climática;

Cenário 1: as emissões chegariam a 1,0Gt CO² em 2030 e seriam neutras em 2050 (emissões líquidas zero). No entanto, seria necessário aumentar a taxa de carbono como forma de incentivar a adoção de mais medidas de mitigação pelos setores taxados e, dessa forma, alcançar as metas prometidas pelo Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCC)

Cenário 2: além de atingir a NDC em 2025 e 2030, e a neutralidade climática em 2050 (como no cenário 1), há a projeção de crescimento do PIB em relação ao cenário referência, chegando a R$ 9,66 trilhões em 2030 (+1%) e R$ 14,13 trilhões em 2050 (+1,8%).

A projeção demonstra que por meio do mercado de carbono é possível chegar à neutralidade climática em 2050 e ainda aumentar o nível de atividade econômica do país, reduzindo a taxa de desemprego.

“Uma política de precificação de carbono adequada ao país, que use as receitas para reduzir distorções da economia brasileira e incentive a criação de empregos parece estar entre as melhores alternativas para o Brasil cumprir o Acordo de Paris, sem prejuízo ao crescimento econômico e social”, explica o diretor de Relações Institucionais, Roberto Muniz.

O QUE OS SETORES PODEM FAZER

Para além dos instrumentos de precificação, melhorias de eficiência energética e processos de produção com tecnologias mais avançadas contribuem para a descarbonização e alavancam a economia.

No estudo, a CNI também listou opções tecnológicas de controle e eficiência para cinco setores. Veja algumas:

ALUMÍNIO

Controle de motores e inversores de frequência

Caldeira a gás natural

Otimização do fluxo de ar da combustão

Isolamento em fornos

Recuperação de calor

CIMENTO
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O setor de cimento é um com maiores emissões dentro da indústria.

Queima melhorada usando mineralizadores

Otimização de controle e processos de recuperação de calor

Geração de eletricidade a partir da recuperação de calor

Substituição de moinhos de bola por FPGR ou moinhos horizontais

Ciclones de baixa queda de pressão nos pré-aquecedores

FERRO-GUSA E AÇO

Sistema de controle avançado

Drives dos ventiladores

Recuperação de calor das fornalhas

Injeção de carvão pulverizado

Controle da umidade do carvão

INDÚSTRIA QUÍMICA

Adoção de biomassa em fornos e caldeiras

Recuperação de calor em caldeiras

Pré-reformador na produção de amônia e metanol

Adoção de gás natural em caldeiras

Eletrocatálise

PAPEL E CELULOSE

Caldeira auxiliar com controle de processo, recuperação de vapor e retorno de condensado

Modificações no forno de cal

Caldeira de papel com controle de processo, recuperação de vapor e retorno de condensado

Secadores condbelt

Prensas mais eficientes

Para saber mais sobre o estudo acesse o site.

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Marcus Figueiredo

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