Brasil tem 27 novas plantas de biometano com potencial de conexão à rede de gasodutos

Um levantamento feito por um grupo de trabalho criado pela Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás) e pela Associação Brasileira do Biogás (Abiogás) revelou que há hoje, no Brasil, nada menos do que 27 novas plantas de biometano com potencial de conexão à rede de gasodutos nos próximos anos.

Com a pesquisa, a intenção dos distribuidores de gás natural e produtores de biogás foi a de fornecer subsídios, para as concessionárias estaduais, de modo que elas se convençam em desenvolver um pouco mais o uso deste combustível renovável no país.

O biometano é hoje absurdamente subutilizado no Brasil. O país sequer produz 1% do seu potencial, da ordem de 100 milhões de m³ por dia.

“Atualmente, produzimos 400 mil m³ por dia e injetamos na rede aproximadamente 100 mil m³ por dia. É muito pouco”, critica o diretor de Estratégia e Mercado da Abegás, Marcelo Mendonça.

Segundo ele, mesmo levando em consideração que o potencial de 100 milhões de m³/dia inclui áreas onde a produção e o escoamento de biometano seria lá um tanto mais difícil, se o Brasil conseguisse viabilizar 20% deste total, já seria uma grande conquista.

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Fonte:(https://ipesi.com.br)

“Mudaria completamente o panorama da distribuição de gás no país”, assegura o executivo da Abegás.

ATERROS

A expectativa das associações é de que a produção nacional de biometano atinja os 2,2 milhões de m³/dia até 2027. Desse total, 1,3 milhão de m³/dia deve vir do biogás produzido no setor de saneamento (como aterros sanitários). O segmento sucroenergético, por sua vez, deve responder por 700 mil m³/dia, e o agroindustrial, por mais 200 mil m³/dia.

São Paulo, com 15 plantas, é o estado com mais projetos novos, seguido pelo Rio Grande do Sul, com 6. Mas há projetos novos mapeados em estados de todas as regiões do país: Rio de Janeiro, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará e Amazonas.

Otimistas, as duas entidades acreditam que, daqui a dois anos, na próxima grande janela de contratação por parte das distribuidoras, a participação do biometano também será consideravelmente maior no país – e ajudará as concessionárias estaduais a diversificar o portfólio de suprimento.

Para os dirigentes do setor de produção e distribuição, isto estimulará, por tabela, a criação de uma espécie de “círculo virtuoso” no segmento. Pois a adoção crescente, e cada vez em maior escala do biometano, fará a produção nacional avançar ainda mais nos próximos cinco a dez anos, para além das 27 novas unidades de biometano já mapeadas, embora nem todas as usinas devam ser necessariamente conectadas à rede das distribuidoras.

INDÚSTRIA

Um dos possíveis mercados futuros para o biometano – e dos mais importantes – pode ser a indústria, que, aliás, não vem escondendo o interesse em dispor deste insumo especialmente nos setores que hoje utilizam o gás natural, que é mais caro, mais poluente e não renovável.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), por exemplo, já vem alertando faz algum tempo que o gás será um insumo essencial para a reindustrialização do país, e que este gás deve ser o biometano.

Os dirigentes desta que é a mais poderosa entidade empresarial do Brasil – principalmente aqueles mais ligados à área ambiental – também criticam a não exploração pelo Brasil de todo o potencial do biometano, para eles sem sentido algum.

Em nota oficial, a Fiesp chegou a afirmar: “O Brasil precisa transformar esses recursos em alavanca de competitividade. Deve, portanto, disponibilizar esses insumos a preços competitivos, para toda a indústria, tanto para os segmentos que os utilizam como fonte energética, quanto para matéria-prima”.

CERÂMICA

Mas diga-se que ao menos um segmento industrial – o de fabricação de produtos cerâmicos, voraz consumidor de gás – já aderiu ao biometano.

Um acordo entre os setores cerâmico e sucroenergético, visando à paulatina substituição do gás natural pelo biometano como combustível para os fornos das fábricas, foi firmado no começo do último mês de março em Santa Gertrudes, grande polo cerâmico do no interior de São Paulo.

O projeto-piloto contemplará, inicialmente,10 plantas consumidoras do polo fabril e entrará de imediato na fase de implantação, com previsão de funcionamento operacional no início de 2025.

A princípio, o uso deverá chegar à proporção de 5% do consumo energético das indústrias participantes. Até 2030, a expectativa é de que o volume alcance 50%do consumo do setor em São Paulo, o equivalente a aproximadamente 1 milhão de m³ por dia.

Somente em torno da região de Santa Gertrudes são 30 usinas, com potencial de fornecimento de 10 milhões a 30 milhões de m³por dia. Além da possibilidade de ampliação no volume do biocombustível disponibilizado para a indústria, o acordo permitirá o desenvolvimento de outros usos para o biometano dentro da cadeia produtiva do setor.

À medida que for sendo ampliada a oferta desse combustível processado a partir de resíduos orgânicos das usinas de açúcar e álcool, espera-se que o uso do biometano seja implantado nacionalmente no setor, não só nos polos de Santa Catarina e do Nordeste, mas também em outros ramos de atividade, que poderão aderir à jornada de substituição energética.

“Para a indústria cerâmica, o acordo representa um novo e importante passo na área energética, com ganhos econômicos e ambientais”, comemora Benjamin Ferreira Neto, presidente do Conselho de Administração da Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres (Anfacer). “É um projeto pioneiro no país, e será um enorme ganho na área sustentável, com diminuição da pegada de carbono, além da previsibilidade de preços e maior segurança energética.”

De acordo com o dirigente empresarial, o biometano só apresenta vantagens. É uma tecnologia de ponta já dominada e altamente sustentável, com enorme potencial de oferta e insumos disponíveis, inclusive nas entressafras da cana.

Esse gás promoveria a economia verde em estrita conformidade com os padrões internacionais discutidos na COP 27: diminuição das emissões de dióxido de carbono na atmosfera; gestão inteligente de resíduos orgânicos; produção local, reduzindo grandes extensões de construção de linhas de gasodutos; melhoria da qualidade da vida, por reduzir o lançamento de metano na atmosfera; e contribuição para conter as mudanças climáticas.

DIESEL

Outro mercado promissor para o biometano é o uso do produto na frota de veículos pesados, como caminhões e ônibus – que independe, muitas vezes, da interligação entre a planta de biogás e a rede de gasodutos.

Uma estimativa contida no estudo da Abegás e da Abiogás dá conta de que a utilização de 30 milhões de m³/dia de biometano para substituir o diesel utilizado por esses veículos faria o Brasil economizar de US$ 6 bilhões a US$ 7 bilhões por ano em importações deste óleo derivado do petróleo.

A pesquisa destaca ainda que a substituição do diesel por biometano, aliás, já é feita com sucesso em Estocolmo (Suécia) e em Los Angeles (Estados Unidos), onde os ônibus urbanos utilizam apenas o gás renovável.

Já segundo o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o uso de todo o potencial de produção de biometano do Brasil, no lugar do diesel, no abastecimento das frotas de veículos pesados, poderia substituir toda a importação do fóssil pela próxima década. Isso representaria uma “economia” de até US$ 137 bilhões ao longo desse período.

Com base em projeções de diferentes cenários de crescimento da economia, a CBIE elaborou três cenários de evolução do consumo de diesel no Brasil até 2031. Em um quadro mais otimista de avanço do Produto Interno Bruto (PIB), a demanda por diesel superaria a capacidade de refino prevista e exigiria ainda importações. Só em 2031, o volume chegaria a 35 bilhões de litros, ou o equivalente a 45% do consumo esperado para o ano.

Para substituir essa importação por completo, a indústria nacional de biometano teria que chegar a 2031 com uma capacidade de produção anual de 40 bilhões de litros, ou 112,89 milhões de m³ por dia. Esse volume evitaria o gasto de US$ 137 bilhões com importações no período de 2021 a 2031.

No cenário-base dos cálculos da consultoria, em que o crescimento econômico seria menos acelerado, o Brasil teria que importar 30 bilhões de litros de diesel em 2031. Com isso, a substituição do combustível fóssil por biometano seria de US$ 124 bilhões. Para saber mais sobre o futuro do gás no Brasil acesse o site.

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Marcus Figueiredo

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