Os carros voadores já estão tão próximos da nossa realidade – inclusive da realidade paulistana, bom esclarecer – que até uma feira de negócios sobre esta nova e revolucionária modalidade de transporte urbano deve acontecer em São Paulo no ano que vem.
Programada pela MundoGeo, grupo de divulgação de novas tecnologias, para transcorrer no Expo Center Norte entre 21 e 23 de maio de 2024, a Expo eVTOL – sigla em inglês do nome oficial das aeronaves elétricas de decolagem e pouso vertical – será a primeira feira do Brasil dedicada à modalidade.
A feira vai acontecer em paralelo a três outros eventos dedicados à alta tecnologia, o DroneShow Robotics, o SpaceBR Show e o MundoGEO Connect. A ideia de promovê-la nasceu devido ao sucesso do 1º Fórum eVTOL, organizado este ano pela MundoGeo dentro da DroneShow Robotics.
“Tivemos um ótimo retorno de público”, diz Emerson Granemann, CEO da MundoGeo, que foi recentemente adquirida pela Italian Exhibition Group (IEG). “O sucesso do fórum comprovou que havia espaço para apresentar as novidades do setor e expandir as discussões sobre a modalidade”.
De acordo com Granemann, a primeira edição da Expo eVTOL, de fato, mostrará muito mais do que simplesmente modelos já existentes e protótipos de aeronaves de pouso e decolagem vertical.
O local será palco de fóruns e debates sobre o futuro dos carros voadores, colocando em tela principalmente a sua utilização na área de transporte de passageiros, logística, defesa e segurança, assim como o complexo ecossistema que cercará a operação dos eVTOL e aspectos como legislação e formação de mão de obra para o setor.
A feira ainda vai destacar em sua programação o conceito de Mobilidade Aérea Avançada (AAM, na sigla em inglês), que vai muito além do eVTOL, na prática um simples aparelho, apesar de sofisticado e cujo design é para lá de inovador. Trata-se de toda uma nova forma de aviação, que opera em um ambiente altamente automatizado e colaborativo, com tecnologias inovadoras em gestão de tráfego aéreo, infraestrutura, ecossistemas digitais, meios de comunicação e elevados padrões de sustentabilidade.
Os serviços de AAM, que incluem transporte de passageiros e cargas, além de respostas a emergências e segurança, não ocorrerão somente em ambientes urbanos e têm o potencial de melhorar a acessibilidade, a sustentabilidade e a mobilidade do transporte intermodal, bem como a qualidade do ambiente, da vida, da segurança e da proteção dos cidadãos.
CARROS VOADORES EM ALTA
A feira da MundoGeo justifica-se também pelo cada vez maior interesse do mercado pelos eVTOLs. As projeções sobre investimentos futuros são, de fato, as melhores possíveis. Uma estimativa da consultoria britânica Imarc Group aponta para investimentos na casa de US$ 21,62 bilhões até 2027, sendo que muitos desses aportes virão de gigantes do setor aeronáutico.
Entre as empresas listadas como interessadas no segmento ou em realizar aportes na área aparecem uma infinidade de companhias aéreas, startups e fabricantes do porte de uma Airbus e Boeing, além da brasileira Embraer, através de seu braço de inovação Eve Air Mobility.
A Eve está não apenas produzindo um eVTOL, como desenvolvendo soluções de gerenciamento de tráfego aéreo urbano. A companhia tem atualmente a maior carteira de pedidos do mundo – 2.850 unidades -, incluindo nomes poderosos como United Airlines, Republic Airways, SkyWest, Blade Aviation, BAE Systems e Bristow, além das brasileiras Avantto, Flapper, FlyBis, Helisul e Voar.
O Brasil também se destaca entre os futuros operadores dessas aeronaves inovadoras. Além das clientes da Eve, o país conta com a participação da Azul e da Gol, que encomendaram eVTOLs da Lilium e Vertical Aerospace, respectivamente.
Só de cartas de intenções divulgadas publicamente, o Brasil poderá chegar a 780 aeronaves, atrás somente dos Estados Unidos e da China. O país também já possui até alguns projetos de campos de pouso para os eVTOLs.
Acredita-se que, no cômputo geral, as principais desenvolvedoras de eVTOLs já somam mais de 10 mil pedidos. Essas empresas receberam US$ 8,4 bilhões para investimentos em seus programas, segundo a SMG Consulting. Isso sem contar empresas que estão usando recursos próprios, casos de gigantes do setor aéreo, como Airbus e Textron, e mesmo do segmento de automóveis, incluindo Honda e Volkswagen.
TIRANDO DO PAPEL
Há projetos bastante adiantados. A chinesa EHang Holdings, por exemplo, já concluiu todos os testes necessários para obter um certificado de tipo para seu eVTOL, o EH216-S, abrindo caminho para a startup se tornar, possivelmente, uma das primeiras empresas do mundo a produzir carros voadores não tripulados para uso comercial.
A startup sediada em Guangdong assinou um memorando de entendimento com o governo do distrito de Baoan, em Shenzhen, em julho, para explorar o uso de veículos eVtol localmente após a certificação de sua aeronave. A EHang planeja estabelecer um centro de demonstração de operações em Shenzhen e lançar serviços de turismo aéreo e passeios.
Dinheiro para investimento é o que não falta para a companhia. Em julho, a EHang recebeu um aporte financeiro de US$ 23 milhões por meio de uma oferta de um grupo de investidores liderado por Lee Soo-Man, empresário sul-coreano e fundador da SM Entertainment, uma potência do K-pop.
A startup usará os recursos para reabastecer seu capital e para outros fins, como a aceleração de planos estratégicos, avanços tecnológicos e negócios.
Já nos Estados Unidos, comprar um carro voador e sair cruzando os céus é algo que está cada vez mais próximo da realidade. Prova disso é que a Alef Aeronautics conseguiu o primeiro Certificado de Aeronavegabilidade Especial junto à FAA (Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos) para colocar o seu Alef Model A no ar. O Model A é um carro voador dotado de 8 motores e 100% elétrico.
O projeto segue os princípios do “disco-voador”, mas com um visual mais tradicional, como o de um carro normal. Foi projetado para ser dirigido nas ruas, mas também pode decolar verticalmente e voar acima do tráfego, movendo-se em todas as direções – para cima, para baixo, para frente, para trás, para a esquerda e para a direita.
Segundo a empresa, o veículo tem ainda excelente autonomia por carga, podendo rodar até 322 km por ciclo. Mas o curioso é que, em terra firme, o desempenho fica bem abaixo do que quando ele está no ar. A velocidade máxima atingida pelo Model A em solo é de apenas 38 km/h – baixa até mesmo para os padrões de uma Mobylette.
A justificativa para uma velocidade tão baixa chega a até ser engraçada. De acordo com a empresa, por se tratar de um carro voador, caso o motorista precise de mais velocidade, basta a ele levantar voo e, desta forma, andar pelos céus de sua cidade até 177 km por ciclo.
Este primeiro carro voador certificado dos Estados Unidos já está disponível para os interessados, em sistema de pré-venda. O preço para entrar na fila geral é de US$ 150, e para ter prioridade na compra deve-se desembolsar US$ 1.500. O valor será deduzido do preço final, que hoje está fixado em US$ 299.999. Segundo a empresa, 440 encomendas já foram realizadas no site, tanto de pessoas “comuns” quanto de clientes corporativos.
BREVÊ
Uma pergunta que muitos fazem é se as “pessoas comuns” poderão pilotar um eVTOL. Isso vai depender de muitos fatores. No Brasil, de acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), é mais do que provável que o uso dos carros voadores, seja ele de qual modelo for (eVTOL puro ou carros adaptados com asas), demandará uma licença de operação similar à exigida aos pilotos de aviões e helicópteros.
Ou seja, a regulamentação dessa atividade irá derivar da aplicada à aviação civil, com todos os requisitos de segurança, incluindo manutenção e certificação até as licenças para os pilotos que venham a operar essa aeronave.
É bem possível que a nova tecnologia só seja efetivamente liberada depois que a regulamentação vigente para a aviação civil for revista, pois muitos requisitos deverão ser ajustados à nova realidade para garantir o nível de segurança adequado a ela. Para saber mais sobre os “carros voadores” acesse o site.
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